Quando levei o Jonas na rodoviária, segunda passada, me bateu uma saudade imensa de coisas que eu ainda não perdi. Saudade do Brasil, saudade do pai, e da mãe, e da iza, e dos amigos, até daqui da cidade. Liguei um cd, o Jonas ainda estava no carro. Começou a tocar "lambada de serpente", do Djavan. O Jonas virou pra mim, depois de algum tempo de silêncio, me perguntando se eu chorava quando ouvia aquele tipo de música. "Esta é uma que volta-e-meia me derruba", eu respondi. Depois, zapeei pelo cd procurando "desenredo", a minha preferida pra chorar. Se é que existe tal classificação. Mas eu inevitavelmente choro, toda vez que toca. Nem sempre pelos olhos.
Encontrei a música, e deixei tocar. Um arranjo singelo, misturado com "trenzinho do caipira", do Villa Lobos. Comecei a chorar. O Jonas ficou meio sem jeito, falou algumas coisas pra desvirtuar um pouco, depois silenciou, pra ouvir o resto da canção. Chegamos no desembarque, ele disse aquelas coisas que a gente sempre diz, mas que vindo de um amigo como ele significam muita coisa.
Saí da rodoviária com a impressão de ter deixado um grande amigo "pra trás". Olhei pelo retrovisor, mas ele já tinha sumido de vista. Então, peguei o caminho prum restaurante, onde mais tarde, iria almoçar com uns amigos. Dentro do carro, agora sem o Jonas, ficou o silêncio de uma solidão momentânea. Tanto o silêncio quanto a solidão pareceram muito maiores, por que se tratava da ausência do Jonas, que ocupa um espaço imenso no coração, e um bem razoável no carro.
As janelas fechadas isolavam o ruído lá de fora, e o Renato Braz começou de novo, no rádio, "por toda terra que passo, me espanta tudo que vejo". Subiu um arrepio triste pela espinha. Olhei pra Curitiba, lá fora, com a cara cinzenta de costume, "a morte tece seu fio, de vida feita ao avesso", e tudo aquilo me pareceu a sala de casa. Olhei pras pessoas na rua, pros prédios, "o olhar que prende anda solto", e comecei a chorar, pensando em casa, pensando nos amigos, pensando no Brasil, "o olhar que solta anda preso", e pensei em quanto era eu, naquilo tudo. "Mas quando eu chego eu me enredo nas tranças do teu desejo", soprava o Braz, e eu fui ouvindo os meus sonhos e as suas consequências, na música. A Nova Zelândia, agora, não parecia tão atraente. "O mundo todo marcado a ferro, fogo e desprezo" notei que eu estava dentro de uma bolha. Observava o mundo ali fora mudo e cinza, e eu o ouvia, de um outro jeito, através do rádio. "A vida é o fio do tempo, a morte é o fim do novelo". Ele dizia aquelas palavras pra mim, e eu rasgava no meio, de tanta saudade que me dava, de olhar pros muros, pros postes, pros cachorros, pra Sete de Setembro. "O olhar que assusta anda morto, o olhar que avisa anda aceso". Me entreguei definitivamente ao choro, cheguei no restaurante com a cara inchada, mas com uma sensação leve e eterna no peito, sensação de que a angúsita da saudade iria me seguir, onde quer que eu fosse. "Mas quando eu chego eu me perco nas tramas do teu segredo".
Fiquei uns 5 minutos no carro, até a cara desinchar, e desci do carro, depois de terminar o primeiro refrão, que dizia "ê Minas, ê, Minas, é hora de partir".
*filme da vez: ABRIL DESPEDAÇADO (Walter Salles) - 2001
Ô menino, que bom ler vc! Escreva mais, o sangue anda na veia quando descascamos a ferida. Um abração.
ResponderExcluiré Dani tu realmente ta muito poético cara tão profundas as tuas palavras ........continue mas não pire muito abração .....vou tentar ir ai antes de tu ir
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