A Ilha.

"O que voce fazer?" - gritou o taxista. Me assustei, olhei pra ele e percebi que estava entrando no lado do motorista. "Desculpa, desculpa, e que no meu pais, o volante e no outro lado, desculpa" - entramos no carro, eu na frente, agora no lado certo, e o Heitor no banco de tras, se segurando pra nao rir da minha cara. "Aonde voce querer ir?" - a esta altura, ja tinha dado pra perceber que ele nao era australiano, meeesmo. "So um pouco. Ah, aqui esta. Mackay Terrace, 31 - Bardon. O senhor sabe onde e?" - "Bardun, Bardun, sim, sim. Bardun. OK let's go." Eu nao sabia bem o que dizer a ele. "Qual e o seu nome?" - ele pareceu surpreso com a pergunta, demorou um pouco a responder. "Pode me chamar Roni." "Roni", repeti baixo.





Roni era um sujeito gordinho, mais ou menos 1.60, com ralos e despenteados tufos de cabelos no topo da cabeca, e um bigode desgrenhado, meio sujo. Tinha um olhar meio amedrontado, meio instigante. "O senhor e daqui mesmo?"-perguntei. A resposta demorou um pouco a vir. Ele pareceu realmente envergonhado, quase me arrependi. "Venho do Afeganistao." Roupas gastas, barba por fazer, falando um pessimo ingles, ele parecia achar que tinha muitas razoes para se envergonhar. Nao tinha nenhuma. 5 minutos de prosa, e ganhamos a confianca dele, e ele a nossa. "Voces tem que comprar em loja de segunda mao. E muito mais barata. As pessoas daqui jogam fora muito. Essa calca? Seis dolares, loja de segunda mao. Bem barato."





Cuspindo bastante, e demorando a escolher as palavras, Roni falava tao alto que alguem poderia pensar que ele estava nos ameacando, do jeito como ele gesticulava, e nos olhava. As vezes, tirava os olhos da estrada por 15 segundos, nao sei como nao bateu em nada. "Computadores? Voce acha em lixo. Em lixo. Eles so jogam fora. So jogam fora."





Pelas tantas dos 50 dolares de corrida, ele se perdeu. Se perdeu, mesmo. Chingava alguma coisa na sua lingua, "Bardun $&(#&(%$^&#%^! Bardun %#^*$%&#". Perguntei se poderia dar uma olhada na lista, enquanto ele cutucava a tela do GPS, sem entender nada. Eu disse: "Roni, nos nao podemos pagar mais que isto. Nos deixe aqui, que a gente encontra o caminho." Ele me olhou, seu cerebro parecia que iria fumegar a qualquer instante. "Fazer assim. 50 dolares. Nada mais. Agora, eu pago. Eu pago." Entao, eu peguei o mapa, um pouco assustado, e encontrei o lugar onde precisavamos ir. Comecei a apontar as direcoes, vira aqui, faz o retorno ali, etc, ate que chegamos la. Ele pareceu muito desconcertado, mas nao se desculpou muito, apenas continuou amaldicoando o suburbio onde ele tinha que nos levar." %&#^&$%&@$% Bardun! Por isso eu nunca vou Bardun. Por isso!". Assim, ajudando o taxista a se encontrar, chegamos a nossa homestay.