Mas as pessoas na sala de jantar estao ocupadas em nascer e morrer

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"Voce tem um minuto, Daniel?"
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Foi assim que a minha ex-supervisora da faxina me chamou, quando eu estava aspirando o po de um dos andares. Minutos antes, eu a havia informado de que esta seria minha ultima semana de cleaner.
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"Eu queria falar sobre algumas coisas com voce." Junto com a noticia de deixar a empresa de faxina, disse a ela tambem, que meus planos eram de me mudar pra outra cidade, Melbourne ou Sydney. "Neste pedaco de papel aqui, esta o meu email, e meu celular. Qualquer coisa que voce precisar, nao hesite. Inclusive, se voce precisar que eu indique voce a alguma empresa em Melbourne, pode usar meu nome." Sem acao, esbocei um obrigado, tentando fazer ele soar o quanto aquilo significava pra mim.
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"Voce e jovem, e vai viajar muito ainda. Entao, se algum dia voce for a Macedonia (seu pais de origem), quero que voce me mande um email, porque eu gostaria muito que um amigo meu, que entende muito de musica popular no meu pais, o hospede na casa dele e o ensine o possivel sobre a musica do meu povo. Veja voce; eu um dia tambem ja fui artista. Dancarina, uma das melhores da minha cidade"- disse isso com um orgulho infantil e singelo, como o de um girassol que exibe o seu amarelo no meio de um campo com milhares de girassois. "Era jovem, foi ha muitos anos atras. E certa vez, veio a minha cidade um grupo profissional. Viajavam por toda a Macedonia e por alguns paises da Europa, se apresentando e ganhando um dinheirinho fazendo o que gostavam. Na noite em que os vi, apos o espetaculo fui correndo falar com o responsavel pelo grupo. Ele me disse que eu seria aceita no grupo, se a experiencia que eu dizia ter realmente era verdade."
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"Meu coracao deu um pulo, e corri pra casa, contar aos meus pais", dizia Suzana, os olhos fixos em algum fato no passado, "mas meu pai nao deixou. Entendo ele, ele era uma pessoa simples, nos eramos uma familia humilde, nao tinha como ele adivinhar que eu poderia ter dado certo. Disse que eu era muito nova, e que nao sabia nada do mundo ainda. Bem, de qualquer maneira," disse ela, tentando esconder a voz oscilante "aqui estou eu, limpando escritorios. Nao estou reclamando, pelo contrario; espero poder ajudar voce a perseguir esse sonho de ser artista. Nao sei ser de outro jeito. Gosto de ajudar gente nova. Entao, acho que era isso. Foi um prazer ter te conhecido, e espero que voce consiga o sucesso que esta perseguindo. Adeus!"
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Meio sem jeito, Suzana apressou o passo em direcao aos elevadores, me deixando meio que sem reacao. Desconheco o que a fez se sentir a vontade pra me contar tudo isso. Talvez as inumeras vezes que ela me pegou cantando a plenos pulmoes predio afora, ou as palhacadas que eu faco, com ela e com os outros faxineiros, ou sei la o que. Mas me sinto honrado e grato, de um jeito que nao cabe num texto de blog, por ter sido presenteado com um pedacinho da historia de alguem.
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Foi esta a ultima vez que vi Suzana. Espero ve-la ainda uma vez antes de me ir pra onde quer que eu va. Mas ela, dentre tantas outras pessoas que tem feito dessa viagem o trecho mais rico da minha vida, certamente nao sera esquecida. E a dancarina sera representada, por mim, se e que o musico vai realmente dar em alguma coisa. Acho que a gente devia fazer mais pelo sonho dos outros.
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Viva o Som!

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"Ele e antes de todas as coisas, e Nele tudo subsiste."

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