terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Porque se chamavam homens, também se chamavam sonhos; e sonhos não envelhecem

Nos olhos mareados do meu avô, eu vi o mundo de relance.

Enquanto elaborava criativamente mais uma versão de uma de suas histórias (que ouvi não poucas vezes), meu avô deixou escapar um lampejo profundo de saudade no brilho dos seus olhos azuis. Cativado pelo afinco com o qual ele contava seu causo, estava hipnotizado pela grandeza do momento. Tantas vezes sentamos para ouvir a mesma história..!

Me senti como se tivesse me sentado com um grande escritor, contando-me sobre as viagens que lhe inspiraram as histórias. E era isso mesmo.

A riqueza dos detalhes, muitos com data, local e até personagem trocados, era digna de um clássico. De quando em vez, ele me olhava, se certificando de que a intensidade da história estivesse sendo percebida por mim. Aonde havia dor, surpresa, alegria, graça ou desgraça, ele apertava os braços da poltrona com suas mãos de longos dedos, e me olhava fundo nos olhos. Dentro destes, ardia o mesmo desejo que arde no coração de todo viajante: a vontade de explicar a estrada.

Que momento sagrado, que oportunidade ímpar. Ouvir assim, quase que por acidente, o lamento de uma lembrança que vem perdendo a cor, a exatidão, mas que jamais perde sua paixão por ser lembrada.


martiNi

6 comentários:

  1. Lindo... Consegui entrar no momento do ocorrido. O vô é lindo.
    Amo vc, piá.
    Iza.

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  2. Camarada, que viagem linda tu fizeste! E dizer que quase sempre, cheios de preconceito, jogamos esses momentos no lixo, pensando "coitado do vô, tá tão velhinho...". Obrigado pelo chacoalhão! Beijos!

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  3. E então..? Então é isso mexmo.. Quando olhamos "através" dos olhos de alguém querido podemos tocar nossa própria alma! Podemos juntar nosso coração e ser um... Neste vasto Universo de seres vivos e carentes!

    Maicon Sullivan!

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  4. Consegui, do meu jeito, imaginar a cena... Que momento especial, Dani!
    ... vontade de estar junto, ver seu vozinho mas tbm reparar em vc e na sua profunda alegria em estar absorvendo cada detalhe da historia... da historia que teu avo contou e da que tu escreveu...

    =) meu orgulho, tu escreve bem demais...

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  5. Me emocionei imaginando teus momentos com teu vô, e também lembrando de momentos preciosos com meus avós... pensando na vó, que inspirou mais do que alguém jamais vai poder compreender (que SAUDADES dela), como teu vô.

    Saudades, Martini! Bjão

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  6. Nossa, que saudades que eu estava desse blog! Tudo muito lindo, Dani! Beijo grande pra você!

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